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quarta-feira, 11 de março de 2009

Catar feijão - João Cabral de Melo Neto

Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.


Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão
imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura
fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.

1 comentários:

Fê Santiago disse...

Nessa poesia vemos como é importante a escolha das palavras para a criação de um texto, não se 'jogam' as palavras,as escolhemos,e com muito cuidado,assim como catar feijão.